Aqui vão alguns exemplos usados em aula para observarmos a diferença entre o modelo clássico e o romântico da música (séc. XVIII e XIX), tendo como representantes Haydn e Mozart, por um lado, e o próprio Beethoven, por outro, ainda que a posição deste seja ambígua, conforme conversamos.
Dentre os aspectos elencados para a música clássica, estão a clareza ou luz, metáfora para a composição equilibrada e que respeita a execução de cada nota, de modo que os sons seja percebidos sem excessos e com ordenação, métrica (métron). Filosoficamente isso é expresso no Cânone de Plicleto, uma escultura que expressa o princípio da harmonia (harmonía) e simetria. Como exemplo desse modelo, temos "A Criação" (Die Schöpfung) de Haydn, na qual a história da criação do mundo é contada em três partes, a partir do livro bíblico "Gênesis".
Na primeira parte, depois da introdução, o coro canta (o trecho é tensionado, mas uma tensão em certa medida controlada):
"Und der Geist Gottes schwebte auf der Fläche der Wasser,
und Gott sprach: Es werde Licht!"
(E o Espírito de Deus pairava sobre as águas,
e Deus disse: Haja luz!)
(Coro explode em um poderoso acorde de Dó maior)
"Und es ward Licht!"
(E fez-se a luz!)
(Recitativo de Rafael)
"Und Gott sah das Licht, dass es gut war;
und Gott schied das Licht von der Finsternis."
(E Deus viu que a luz era boa;
e Deus separou a luz das trevas.)
https://youtu.be/JuD1k9ezQdA?t=335
Já na parte final da primeira parte, uma das mais conhecidas, canta:
"Die Himmel erzählen die Ehre Gottes,
und seiner Hände Werk zeigt an das Firmament.
Dem kommenden Tage sagt es der Tag,
die Nacht, die verschwand, der folgenden Nacht.
In alle Welt ergeht das Wort,
jeder Ohr hört seine Stimme."
(Os céus proclamam a glória de Deus,
e o firmamento anuncia a obra de Suas mãos.
O dia transmite isso ao dia seguinte,
a noite que passou à próxima noite.
Por toda a Terra ressoa a Sua voz,
e todos os ouvidos ouvem Sua mensagem.)
Sobre o estilo clássico, também mencionamos Mozart, no último movimento de "Júpter", a Sinfonia nº 41:
https://youtu.be/C6EOb86YdIs?t=1915
E a ópera "Flauta Mágica":, também de Mozart:
https://youtu.be/R7z6jci4KwU
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O romantismo, musicalmente falando, rompe com a estrutura rígida das formas sonata e sinfônica, sobretudo com a linearidade dos temas e, também, da intensidade na execução dos instrumentos. Comentamos que o romantismo fragmenta os programas e explora o gênero da "fantasia", o gênero de composição mais livre e de certa forma improvisada, em relação aos programas clássicos. Fantasia, ademais, remete à experiência do sonho, a qual explora a nossa capacidade imaginativa (Phantasie é sinônimo de Einbildungskraft, "imaginação").
O exemplo dado foi o quarto movimento da "Pastoral" (sinfonia n. 6) )de Beethoven, chamado por ele de "Tempestade": a tempestade exterior como símbolo da interioridade dos impulsos (Triebe): carências, desejos e sentimentos. A categoria estética do romantismo é, por isso, a do sublime.
https://youtu.be/xWDIwsfgQnE?t=1753
Na sonata, a "Apassionata" é também um bom exemplo:
https://youtu.be/0Ak_7tTxZrk
O colega Henrique lembrou da "Winter Wind", de Frédéric Chopin:
https://youtu.be/Ff4M7jCYloc
Leiam o artigo "The Classic-romantic dichotomy", de Dale Monson (na pasta "Bibliografia"), se quiserem aprofundar o tema!