El Siluetazo (Argentina, 1983)
Após o golpe militar de 1976, a Argentina enfrentou um dos regimes mais brutais e opressivos da América Latina. O "Processo de Reorganização Nacional", como foi chamado a ditadura civil-militar, dominou o país até 1983 e durante esse período, estima-se que o Estado foi responsável pelo desaparecimento de cerca de 30 mil pessoas. Dessa forma, no início dos anos 1980, mesmo com a democracia prestes a retornar, a população argentina continuava sob intensa opressão. O cenário sociopolítico do país, agravado pela derrota na Guerra das Malvinas em 1982, fez com que o poder militar mostrasse sinais de um colapso gradual, enquanto diversos setores da sociedade civil aumentavam suas demandas por informações sobre o destino dos milhares de desaparecidos.
Foi nesse cenário que surgiu o movimento “El Siluetazo”, uma expressão artística de caráter estético e político que buscava representar o desaparecimento de pessoas e, de maneira simbólica, conectar a arte com a realidade vivida pela sociedade. O objetivo central do movimento era “la aparición con vida de miles de personas desaparecidas durante la última dictadura militar” (em português: “A aparição viva de milhares de pessoas desaparecidas na última ditadura militar”). Os artistas visuais Rodolfo Aguerreberry, Julio Flores e Guillermo Kexel foram os criadores do “El Siluetazo” e apresentaram a ideia às “Madres y Abuelas de Plaza de Mayo” – um movimento composto por mães e avós que lutavam contra o desaparecimento de seus filhos na ditadura – assim como à outras organizações sociais de direitos humanos.
No dia 21 de setembro de 1983, durante a Terceira Marcha da Resistência e a poucos meses do término do regime militar, os artistas montaram uma oficina improvisada ao ar livre, onde criaram silhuetas humanas em grandes papéis, que em seguida foram fixados nos edifícios, sobre as sinalizações já existentes. Esse ato provocativo funcionou como um convite para que o público assumisse a tarefa por conta própria. Centenas de manifestantes trouxeram seus próprios materiais para criar mais silhuetas, “usaram seus corpos” como moldes para desenhá-las e se juntaram ao movimento iniciado pelos organizadores.
O El Siluetazo se consolidou como um ato de resistência artística e política ao transformar o espaço público em um lugar de memória e resistência, trazendo visibilidade àqueles que o Estado tentou silenciar e apagar. O impacto desse ato reverberou não apenas na Argentina, mas em toda a América Latina, servindo como um poderoso testemunho do papel da arte na busca pela verdade e na luta contra a opressão.
As imagens do ato podem ser encontradas no segundo link.
REFERÊNCIAS:
BATTITI, F. El Siluetazo. MUAC - Museu Universtário de Arte Contemporânea, 2013. Disponível em: <https://muac.unam.mx/exposicion/el-siluetazo> Acesso em: 23 set. 2024
LONGONI, Ana; BRUZZONE, Gustavo. El Siluetazo. Buenos Aires : Adriana Hidalgo editora, 2008. Disponível em: <https://www.comisionporlamemoria.org/archivos/jovenesymemoria/volumen13/docs/1-arte-y-politica/Texto%204.pdf>