Comentário Charles Taylor - Gabriel Calçada

por Gabriel Calçada Barros da Silva (202500047) -

1 - Charles Taylor entende que há dois tipos de liberalismo em disputa:  de um lado, um liberalismo que propõe ser "cego", neutro em relação às diferenças entre os grupos, então propõe um tratamento uniforme  para todos como forma de não discriminação e de justiça. E de outro, há um liberalismo que surge justamente em reação a essa primeira corrente , alegando que desconsiderar as diferenças entre os grupos e os indivíduos produz injustiças profundas. Assim, esse liberalismo mais aberto às diferenças, por assim dizer, advoga levar em conta as diferenças efetivas de cada grupo, e assim romper com a igualdade de tratamento para se produzir um resultado justo. Como o próprio Taylor exemplifica, essa segunda corrente defenderia reconhecer a especificidade da cultura do Quebec  para permitir excepcionalmente que eles possam utilizar a língua francesa frente à  imposição da língua inglesa como regra-geral para quase todas as outras províncias do Canadá.

Taylor reconhece que essas duas correntes são diferentes, e por isso mesmo entram em disputa em diversos contextos. Mas entende que pode existir uma espécie de meio-termo entre elas, embora não desenvolva neste artigo como isso efetivamente poderia ser feito.

2 - O fato de Charles Taylor propor que o que os movimentos de identidade almejam é o que aparentemente todos os seres-humanos são programados para desejar, o reconhecimento de outros seres-humanos. No caso, esses movimentos supostamente reivindicam o reconhecimento da condição especial de seu grupo, as injustiças a que foram submetidos e os méritos e qualidades dos seus.

3 - Um dos fatores de polarização nas democracias atuais é a divergência sobre qual padrão efetivamente produz justiça. Juntando esse artigo com a obra de Sowell, poderíamos afirmar o seguinte: de um lado, os conservadores costumam advogar essa primeira corrente de liberalismo, em que o tratamento uniforme é garantia de ausência de discriminação e, portanto, de justiça. De outro, os progressistas costumam esposar essa segunda corrente, em que se deve reconhecer as diferenças específicas entre os grupos e indivíduos para se produzir um resultado justo. Assim, se ambos os lados entendem como justiça padrões completamente diferentes, e, ao contrário de Taylor, entendo que essas duas propostas são inconciliáveis, então o resultado serão divergências igualmente inconciliáveis, principalmente em temas como ações afirmativas  e leis anti-discriminação.