1 - Central nos artigos é o fato de que o termo "fake news" tornou-se o que Laclau denomina de "significante flutuante", ou seja, um termo que não possui um significado fixo, e que, justamente, adquire diferentes significados em contextos diferentes, utilizado para deslegitimar os adversários políticos e fortalecer as posições do próprio grupo. Com efeito: a mídia "liberal" passou a utilizar o termo para criticar o trumpismo, e o contrário, o trumpismo vale-se do termo para desqualificar a mídia "liberal" tradicional.Também é central o fato de que os promotores da narrativa da "pós-verdade" mobilizam todo um raciocínio do que Mouffe e outros pensadores chamam de "pós política", uma visão otimista e idealizada quanto à possibilidade da utilização da razão na vida prática.
2 - Chamou a minha atenção a análise dos autores, de que por trás do discurso catastrofista da "pós-verdade", esconde-se o raciocínio próprio da chamada "pós-política", de que as decisões políticas nas democracias poderiam ser tomadas de forma puramente técnica e neutra. O que evidencia, de certa forma, o poder do discurso da "pós-política".
3 - O autores mostram que os promotores da narrativa da "pós-verdade" mobilizam um raciocínio próprio do que Mouffe e outros pensadores chamam de "pós-política", de que a democracia seria alicerçada na verdade, razão e consenso, ou seja, a partir da utilização da razão seria possível chegar em soluções consensuais. E, quem se distanciaria desse suposto consenso seria irracional e consumidor de "fake news" por definição. Essa seria uma visão racionalista otimista sobre o poder da razão na vida prática. No entanto, as discussões e reflexões da disciplina nos mostram o contrário, de que há limites bastante significativos sobre o poder da razão na vida social e política. Pois, como vimos, não haveria uma utilização pura, incondicional, da razão, separada do corpo e das paixões, como acreditavam muitos filósofos. Mais ainda, a utilização da razão não nos permitiria a chegar a uma solução única, como o provam as enormes divergências entre filósofos, sociólogos e outros pensadores.