1 – O autor constrói um raciocínio baseado em suas pesquisas sobre a moralidade como o resultado de múltiplos intuitos morais que operam quase automaticamente, levando a razão a justificar decisões já tomadas pelos sentimentos. Isso implica muitas dificuldades para compreender a moralidade humana, pois esta seria multifacetada. Tentando dar sentido e inteligibilidade às suas múltiplas faces, Haidt apresenta os alicerces morais através dos quais os seres humanos entenderiam as circunstâncias sociais e expressariam as construções morais, segundo ele feitas de improviso, que guiam as atitudes. São elas cuidado/dano, justiça/trapaça, liberdade/opressão, lealdade/traição, autoridade/subversão e pureza/degradação.
2 – Chama a atenção a afirmação do autor de que os progressistas mobilizariam prioritariamente os três primeiros alicerces, enquanto os conservadores se pautam em todos os seis, porém mais fortemente nos três últimos. Então progressistas lidariam mais com Cuidado/dano, Justiça/trapaça e Liberdade/opressão. Já os conservadoresdão um peso maior para Lealdade/traição, Autoridade/subversão e Pureza/degradação, porém, mobilizando, mesmo que não na mesma intensidade, os seis pilares o grupo conservador obtém vantagem sobre o grupo progressista, pois expressariam, mesmo que de outra forma, algumas preocupações que os progressistas também apresentam, mas estenderiam a sua influência ao expressar outras preocupações e ideais sobre aspectos da vida social desprezados pelos progressistas, mas importantes para a maioria das pessoas. Claro que estas questões não são tão bem delimitadas e definidas quanto exposto no livro e deve ser possível pensar em zonas de intersecção entre estes alicerces, como por exemplo entre cuidado/dano e pureza/degradação, mesmo entre progressistas. Mesmo assim, me parece ser um trabalho relevante para entender como os valores morais se formam e como se diferenciam dos raciocínios improvisados feitos para validar atitudes e julgamentos.
3 – O trabalho do autor se relaciona com o tema das crises da democracia e dos conflitos morais porque busca explicar quais os mecanismos emocionais e racionais atuam na formação da moralidade humana com foco nas diferentes percepções entre progressistas e conservadores. Diante da análise desse trabalho se apresenta mais uma alternativa teórica de compreensão do fenômeno que se encontra no centro da disciplina.