Em 1968, em meio à intensa repressão militar, setores do meio artístico e intelectual da esquerda estudantil acirraram suas críticas aos pressupostos culturais e políticos do Partido Comunista Brasileiro, que se opunha à luta armada defendida por seus dissidentes. O principal ponto de crítica era que as artes ditas de esquerda, ao invés de estimular a ação, acabavam mistificando a espera pela revolução, transformando suas obras em símbolos de imobilismo político. Nesse contexto, a canção "Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores", de Geraldo Vandré, lançada em outubro de 1968, surgiu como resposta a essa crítica. Com seu forte refrão: "Vem, vamos embora; Que esperar não é saber; Quem sabe faz a hora; Não espera acontecer", a canção desafiava a ideia de esperar passivamente pela mudança.
A obra conquistou grande popularidade ao concorrer no Festival Internacional da Canção, onde terminou em segundo lugar, em parte devido à pressão dos militares que não admitiram sua vitória. Mesmo assim, a canção recebeu a aclamação do público. Durante o evento final do festival, no Maracanãzinho, com 30 mil presentes, ela foi entoada em coro pela multidão, que a cantou com fervor tanto durante a apresentação quanto na saída do local. Esse momento é reconhecido por historiadores como uma das mais marcantes expressões de união entre arte, vida e política na história do Brasil. Com isso, "Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores" se consolidou como um emblemático hino de protesto durante a ditadura e permanece relevante como símbolo de resistência e mobilização política até hoje, mantendo sua influência não apenas no Brasil, mas também em protestos ao redor do mundo.
Link para a música: https://www.youtube.com/watch?v=KdvsXn8oVPY
Link para o áudio da apresentação no Maracanãzinho: https://www.youtube.com/watch?v=wkEGNgib2Yw
NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo: Editora Contexto, 2014.