Em 1969 a ditadura militar brasileira vivia seu ápice da repressão, com a declaração do AI-5 em dezembro de 1968. Em termos de política externa, o governo Costa e Silva objetivou diminuir o alinhamento com os Estados Unidos e incentivar a integração latina-americana, ao mesmo tempo que defendia o nacionalismo (Martins, 1975).
Entretanto, no âmbito internacional movimentos contra a situação vivenciada no Brasil ganhavam força e somavam à expressões artísticas de resistência interna. Foi realizada em junho de 1969, em Paris, um evento visando boicotar a Bienal de São Paulo de 1969, em resistência à ditadura militar em curso no Brasil, à instauração do AI-5, ao fechamento da II Bienal da Bahia em dezembro de 1968, à proibição da delegação brasileira de participar da bienal na França em 1969, entre outros. Durante o movimento, um manifesto foi apresentado, criticando o uso da bienal para objetivos políticos, com a repressão de artistas considerados "subversivos ou imorais". O manifesto se espalhou para outros países, recebendo força de artistas brasileiros exilados e estrangeiros que criticavam a ditadura em curso. Como resultado, diversos artistas recusaram-se a participar do evento, e outros participaram com obras em forma de protesto.
Carmela Gross foi uma das artistas que optou por participar da Bienal, trazendo a obra “Barril” - além de “A Carga” e “Presunto”. As obras retratavam elementos do dia a dia, com significados que o governo militar buscava esconder. “Barril” fazia referência à instrumentos de tortura usados para afogamento pela ditadura militar.
Em um momento em que obras de resistência explícitas ao governo eram duramente silenciadas, novas formas de expressão, como a arte visual de Carmela Gross, fortaleceram-se para representar o descontentamento. No contexto da Bienal, o governo que buscava um distanciamento dos EUA com possibilidade para novas parcerias, encontrava movimentos internacionais de artistas resistentes. Assim, pode-se analisar que a obra de Carmela Gross, e o movimento contra a Bienal de 1969, colocaram mais um tijolo na pressão internacional contra a ditadura militar.
Link para fotos da obra “Barril”: https://carmelagross.com/portfolio/x-bienal/
Link para o manifesto que contribuiu para a “bienal do boicote em 1969”: https://icaa.mfah.org/s/en/item/774569#?c=&m=&s=&cv=&xywh=-1977%2C545%2C5999%2C3358
MARTINS, Carlos Estevam. A evolução da política externa brasileira na década de 64/74. Novos Estudos CEBRAP, v. 12, 1975, p. 54-98.