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Avaliação 1 – O Milagre dos Peixes, Milton Nascimento

Avaliação 1 – O Milagre dos Peixes, Milton Nascimento

por Renata Silveira da Cunha (21100633) -
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O álbum Milagre dos Peixes, lançado por Milton Nascimento em 1973, tornou-se um marco na música brasileira e na resistência cultural frente ao regime militar – o próprio título do álbum trazia a oposição de Milton ao milagre econômico da década de 1970-80. Três de suas onze faixas foram censuradas: “Os escravos de Jó” e “Hoje é dia de El-Rey” tiveram suas letras cortadas, enquanto “Cadê” foi vetada por completo. No entanto, isso não impediu que Nascimento lançasse o álbum, substituindo as letras por vocalizações e arranjos instrumentais que transmitiam angústia e descontentamento. O silêncio forçado tornou-se um elemento expressivo da obra, refletindo a repressão vivida durante os anos de chumbo, quando o regime buscava suprimir qualquer forma de contestação.

A censura à música de Milton Nascimento não se restringiu a vetar letras, mas transformou a obra em uma peça de resistência silenciosa e simbólica. Dessa forma, a relação do álbum com os regimes autoritários da época é evidente em sua própria construção. Ao ser censurado, Milton utilizou sua arte para denunciar o controle do Estado sobre a cultura, empregando uma estética que evocava aquilo mesmo que foi silenciado. No contexto de outras ditaduras latino-americanas, como a de Argentina e Chile, essa luta por meio da arte foi uma característica comum, em que artistas de diversos campos encontraram formas criativas de expressar resistência e contestação ao autoritarismo. A censura que Nascimento enfrentou não era apenas uma tentativa de silenciar um artista, mas sim de controlar as narrativas sobre o próprio país.

Assim, ao lançar O Milagre dos Peixes mesmo diante das restrições impostas, o artista evocava a resistência frente à repressão, similar àquela de artistas como Violeta Parra e Víctor Jara demonstraram no Chile, cujas obras visavam desmantelar os símbolos do autoritarismo.

A letra de Milagre dos Peixes (que não passou pelos censores):

Eles não falam do mar e dos peixes
Nem deixam ver a moça, pura canção
Nem ver nascer a flor, nem ver nascer o Sol
E eu apenas sou um a mais, um a mais
A falar dessa dor, a nossa dor

Referências:

COAN, Emerson Ike. "Milagre dos peixes": a censura e a voz de Milton Nascimento na sociedade do espetáculo brasileira. Revista Alterjor, São Paulo, Brasil, v. 22, n. 2, p. 126–144, 2020. DOI: 10.11606/issn.2176-1507.v22i2p126-144. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/alterjor/article/view/171008.. Acesso em: 28 set. 2024.

PATROCÍNIO, Fernanda de Araújo. O som do silêncio em Milagre dos Peixes: possíveis interpretações acerca de um momento histórico e sua ecologia sonora. VI ComCult, São Paulo, 2018. Disponível em: https://www.comcult.cisc.org.br/wp-content/uploads/2019/05/GT1_Fernanda_de_Arau%CC%81jo_Patrocinio_USP.pdf

TEÓFILO, João. 50 anos de "Milagre dos Peixes": Milton Nascimento e a censura. História da Ditadura, 23 out. 2023. Disponível em: https://www.historiadaditadura.com.br/post/50-anos-de-milagre-dos-peixes-milton-nascimento-e-a-censura.

Aqui a música que dá nome ao álbum: 

 O álbum completo: https://open.spotify.com/intl-pt/album/1LnLV4d5u0x3f7a3DOrmLd?si=eD3UktuGTZ2suQdXzLVnmQ