Comentário Hunter - Gabriel Calçada

por Gabriel Calçada Barros da Silva (202500047) -

1 - James Hunter, escrevendo depois de seu livro Culture Wars, reafirma a sua tese sobre a existência de uma "guerra cultural" nos Estados Unidos e em outros países ocidentais. Essa guerra cultural consistiria numa intensa disputa normativa sobre temas morais que polarizaria certos grupos de americanos. O interessante é que, para Hunter, o fato de boa parte da população americana não se alinhar de forma consistente e apaixonada entre os lados da disputa , não consiste propriamente numa objeção contra a existência das chamadas guerras culturais. Pois entende que essa disputa normativa é travada entre grupos de "elite", que justamente, são dotadas dos recursos necessários para a influenciar e produzir a cultura nos cargos responsáveis pela sua produção e difusão. Entende que é justamente esse pequeno grupo,  dividido na guerra cultural ,que detém um poder  desproporcional de influência sobre a sociedade.

2 - O fato das pesquisas dos EUA mencionadas por Hunter corroborarem as pesquisas recentes feitas no Brasil, de que é apenas uma pequena parcela da população que se engaja ativamente nas disputas normativas denominadas por Hunter como "guerras culturais", enquanto que a maioria da população não se posiciona de forma apaixonada sobre todos esses temas morais.

3 - Nos últimos anos surgiu uma grande literatura propondo um estado de crise nas democracias liberais ocidentais. Entendo, junto com a linha defendida pelo Professor na disciplina, que não se trata propriamente de uma crise das democracias, mas que, na verdade, por trás desse fenômeno há uma intensa disputa normativa sobre temas morais que polariza boa parte dos grupo de "elite". Igualmente, tendo a me alinhar também com a posição de Hunter, de que o fato de boa parte da população estar alheia à chamada guerra cultural não pode servir de objeção contra a sua existência, pois ela é justamente travada entre esses grupos de "elite", que possuem as ferramentas necessárias para moldar o debate publico, fornecer o vocabulário para o grande público , como afirma Hunter, ocupar os postos que possuem poder e influências desproporcionais.

Hartman, Andrew. A war for the soul of America

por Tiago Mazeti (202500052) -

1 - Neste livro o historiador Andrew Hatman analisa como a história dos EUA foi marcada por uma série de debates sobre a ideia dominante de “América” marcada pelo enigma de Hector St. John de Crevecoeur de 1782: "O que é então o americano, esse novo homem?" Disputas sobre essa questão complicada marcaram o campo de batalha do conflito cultural americano e se intensificaram nos anos de 1960, em meio a um contexto turbulento marcado por crescimento econômico, Estado de bem-estar social, guerra do Vietnã, movimentos contra a guerra, repressão às manifestações, ascensão de intelectuais secularistas e questionamentos às normas sociais tidas pelos movimentos contraculturais como conservadoras. Deste contexto turbulento surgem a Nova Esquerda, grupo político que colocou questões morais à frente das lutas econômicas e de classe, e os Neoconservadores, grupo de direita que reagiu às relativizações que a Nova Esquerda vinha fazendo em relação às normas sociais. O objetivo do livro é uma tentativa de dar sentido a esta guerra cultural que se formou entre os defensores dos dois grupos.

2 – O que mais chamou a minha atenção no livro é que o autor explora vários fatos históricos trazendo à luz autores, políticos e figuras centrais de ambos os lados do espectro político, como Charles Wright Mills e Daniel Patrick Moynihan, sem distorcer suas ideias e intenções. Com muita precisão e quantidade de detalhes o autor mostra como ambos os grupos travaram a guerra cultural desde os anos 1960 se posicionando sobre gênero e sexualidade, sobre a história dos EUA e sua política externa, sobre as questões raciais e os direitos civis, sobre o feminismo e a família, sobre educação e universidade, sobre arte e contracultura mostrando como estes âmbitos da vida social se transformaram em verdadeiras trincheiras em meio aos conflitos morais.

3 – Este livro traz, em riqueza de detalhes, quais foram os principais temas e a matéria-prima dos conflitos morais nos EUA, focando nos questionamentos levantados pela Nova Esquerda a respeito da necessidade de desconstruir os “americanos normativos”, ao que se seguiu a reação dos Neoconservadores que tentavam preservar uma América da qual não havia motivos para se envergonhar. O livro se relaciona com a disciplina porque explica quando, como e por quais mentes as guerras culturais alcançaram outro patamar na principal democracia do planeta.