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Comentários As Nuvens e "Leo Strauss on The Problem of Socrates in The Clouds"

Comentários As Nuvens e "Leo Strauss on The Problem of Socrates in The Clouds"

por Gabriel Calçada Barros da Silva (202500047) -
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Em primeiro lugar, gostaria de destacar alguns aspectos que chamaram a minha atenção quando da minha primeira leitura da comédia. Na peça, Sócrates não professa seus ensinamentos em público, para toda a Atenas da época, pelo contrário, confina os seus ensinamentos apenas para os membros iniciados da sua instituição de ensino, o pensatório. Isso fica evidente no seguinte diálogo, quando Strepsíades bate pela primeira vez à porta do pensatório :

"Discípulo : Isto só pode ser dito aos condiscípulos. Strepsíades: Diga sem medo, pois venho ao pensatório para ser seu condiscípulo. Discípulo : Então vou dizer, mas é necessário manter essas coisas em segredo, como se fossem mistérios."

Ora, isso ecoa e dá razão para um ponto que  Strauss insiste bastante, de que os antigos possuíam uma visão inigualitária do ser-humano, de que não seriam todas as pessoas que possuem as predisposições necessárias para aprender filosofia. Consequentemente, o ensino desta não deveria ser destinado para o público geral, mas ensinado de forma esotérica, nos termos de Strauss,  para um público iniciado, realmente capaz de compreender esses ensinamentos. 

Interessante também é a forma como Aristófanes retrata o filósofo como predisposto ao ateísmo, questionando a existência dos deuses da cidade, de certa forma dando razão para os seus acusadores décadas mais tarde :

 " Mas você também jura pelos deuses? Para início de conversa, aqui entre nós não existe esta moeda. (..) Strepsíades : Mas você vai me dizer que Zeus Olímpico não é um deus? Sócrates : Que Zeus? Não Zombe de mim! Zeus não existe."

Igualmente, como aparece no artigo de Jean Castro,  é realmente impressionante como a comédia conseguiu  prever com uma precisão impressionante , quase profética, as acusações que se fariam vinte três anos mais tarde quando do julgamento de Sócrates: Corrupção da juventude( no caso o jovem Fidípides) e negação dos deuses da cidade( no caso, Zeus).

Num primeiro contato com a comédia, entendi que o seu objetivo seria o de criticar a filosofia, porém depois de ler o artigo de Jean Castro sobre a interpretação de Strauss sobre a obra, realmente entendo que ela pode retratar as consequências negativas do encontro da filosofia com a sociedade, ou da razão com o senso-comum. Essa interpretação de Strauss é realmente verossímil , embora a mim pareça que em certos momentos da peça Aristófanes busca retratar a filosofia com lentes bastante negativas.

Uma relação possível com o tema da disciplina, à luz da interpretação de Strauss sobre a comédia, seria a constatação de que o mundo social convencional não é regido plenamente pela razão, ao contrário, nele predomina antes o apelo à emoção, de forma que a retórica se mostra decisiva. Assim, a democracia consistiria mesmo num regime trágico, como se afirmou, sujeito à ação de demagogos que podem encaminhar a polis para um mau caminho com a utilização maliciosa da retórica.