1 – A autora elabora uma crítica à democracia liberal na qual identifica um paradoxo baseado na necessidade de consenso e de inclusão de adversários de um lado e na despolitização da vida pública ocasionada pelo liberalismo através da redução do espaço para a discordância de outro. É como se a necessidade de engajamento e participação típica da democracia fosse prejudicada por uma pretensa neutralidade do Estado liberal que torna a política opaca em relação às contradições existentes na sociedade. Isso torna mais evidente a demanda por um Estado que aceite o dissenso e a diferença como motores da vida pública, reconhecendo a inimizade construtiva do espaço público sem permitir que ela se transforme em violência ou ruptura institucional corrosiva ao Estado. Daí advém a proposta da autora por um modelo agonístico de democracia na qual o conflito é canalizado de forma legítima para a existência de diferentes grupos, partidos e mobilizações populares de forma civilizada e democrática.
2 – A ideia de que o conflito é inerente à política chama a atenção, principalmente em um contexto no qual se fala de pacificação da política. Claro, que nesta ideia de pacificação estão contidos certas violências e outros excessos que escapam ao conceito de conflito defendido pela autora. Mas muitas figuras políticas de destaque negam que o conflito pode ter um papel estruturante na política, desde que esteja contido em um contexto institucional que possa canalizá-lo para a deliberação sem violência.
3 – Creio que o trabalho da autora se relaciona com a disciplina por colocar questões para pensar tanto sobre “Crises da democracia” quanto sobre “ conflitos morais”: na primeira questão, o que muitos analistas e políticos acreditam ser uma “crise” pode ser apenas um sintoma de acirramento das próprias características democráticas, já a segunda questão alude às causas do conflito que a ideia de democracia agonística pode ajudar a resolver, mas não no sentido de eliminar o conflito na vida pública, mas sim no sentido de impor regras a partir das quais se desenvolvem debates e disputas sem censurar nenhum grupo ou permitir que a violência seja utilizada de qualquer forma.