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Atividade 1 - Expressão Artística - Caio Fernando Abreu

Atividade 1 - Expressão Artística - Caio Fernando Abreu

por Ane Caroline Schuh Debald (21100624) -
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Caio Fernando Abreu, escritor gaúcho, é tido como um dos expoentes da literatura contemporânea brasileira e teve sua obra produzida entre as décadas de 1960 a 1990. De acordo com a correspondência do autor registrada e compilada por Paula Dip no livro ‘Numa hora assim tão escura’ (2017), Caio não apenas assistiu aos dramas gerados pela intolerância política do período, mas foi, também, vítima da repressão – foi fichado pelo DOPS em 1968, sendo obrigado a refugiar-se no sítio de Hilda Hilst em Campinas e, posteriormente, vive na Europa após tentativas frustradas de retorno.

Com uma prosa única, tem contos mais explícitos em que retrata e denuncia abertamente a violência de Estado (recomendo, nessa linha, o conto ‘Garopaba mon amour’ que se passa em Santa Catarina), bem como os efeitos da repressão de forma subjetiva, expressando os efeitos da sensação de fracasso e amargura de toda uma geração, como no breve trecho a seguir:

[...] eu te olhava entupida de mandrix e babava soluçando perdi minha alegria, anoiteci, roubaram minha esperança, enquanto você, solidário e positivo, apertava meu ombro com sua mão apesar de tudo viril repetindo reage, companheira, reage, a causa precisa dessa tua cabecinha privilegiada, teu potencial criativo, tua lucidez libertária, bababá bababá. As pessoas se transformavam em cadáveres decompostos à minha frente [...] mas eu reagi, despirei, e cadê a causa, cadê a luta, cadê o potencial criativo? (Abreu, 1982, p. 16).

Seleciono a obra do autor por sempre transpassar a dor pura e real que cada personagem carrega, principalmente por conta da capacidade de Caio de representar os efeitos da repressão no íntimo de cada pessoa e deixar que sua biografia influa em sua escrita. Afinal, como afirma Ana Paula Cantarelli no texto ‘Configurações da memória em Caio Fernando Abreu’:

As vivências de Abreu também são as vivências de toda a sua geração que enfrentava os mesmos problemas e as mesmas situações[...] . Abreu foi hippie, trabalhou como lavador de pratos, foi jornalista, foi escritor, trabalhou como modelo vivo, fez faxinas, participou de passeatas, fez mapas astrais, entre tantas outras coisas: 'tudo o que a minha geração fez, eu fiz ao extremo' (Cantarelli, 2011, pp. 146/147).




ABREU, Caio Fernando. Morangos mofados. São Paulo: Brasiliense, 1982. 

DIP, Paula. Numa hora assim escura. Editora José Olympio, 2017.

CANTARELLI, Ana Paula. Configurações da memória em Caio Fernando Abreu. Literatura: Crítica comparada. OURIQUE, João Luís Pereira. CUNHA, João Manoel dos Santos. NEUMANN, Gerson Roberto (ORGs). Pelotas: Ed. Universitária PREC/UFPEL, 2011.