Víctor Lidio Jara Martínez, nascido em 28 de setembro de 1932, foi um dos maiores expoentes da música popular chilena e tornou-se um símbolo de resistência e luta contra a ditadura militar que tomou o Chile em 1973. Seu trabalho artístico combinava música, poesia e militância política, refletindo o contexto social e as aspirações do povo chileno em busca de justiça e igualdade. Jara fez parte do movimento da Nueva Canción Chilena, que unia elementos do folclore latino-americano com letras de forte teor político e social. Com sua voz marcante e letras compostas de humanismo e empatia, ele utilizava sua arte como uma ferramenta política de denúncia e conscientização, expondo a opressão e a desigualdade presentes na sociedade chilena da época. Nesse sentido, o cantor buscou dar voz aos trabalhadores, camponeses e minorias, tornando-se um porta-voz dos que eram silenciados pelo regime.
Entretanto, a vida e a carreira de Jara foram interrompidas nos dias seguintes ao golpe militar de 11 de setembro de 1973, quando foi capturado pelos militares e levado ao Estádio Chile, onde foi torturado e posteriormente assassinado, tornando-se um dos mais conhecidos mártires da resistência à ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Do portfólio do autor destaca-se a canção "Manifiesto", que traz versos sobre a força da arte em tempos de opressão, continua sendo um símbolo de resistência:
Eu não canto por cantar
Nem por ter boa voz
Canto porque a guitarra
Faz todo o sentido e razão
Tem coração de terra
E asas de pomba
É como a água benta
Cruza-se glórias e tristezas
Aqui é a minha canção admitiu
Como disse Violeta
Violão trabalhador
Perfumado Primavera
Essa guitarra não é dos ricos
Nem coisa parecida
Meu canto é dos andaimes
Para alcançar as estrelas
Essa música faz sentido
Quando pulsa nas veias
Que vai morrer cantando
A verdade
Sem bajulações fugazes
Nem famas estrangeiros
Mas a música de um leilão
Para o fundo da terra
Onde tudo vem
E onde tudo começa
Canto foi valente
Será sempre uma nova canção
Até hoje, a obra de Victor Jara permanece viva, inspirando gerações de artistas e ativistas que enxergam na sua música um grito eterno por liberdade e justiça, com seus álbuns expostos em diversos museus de arte pelo país.
REFERÊNCIAS:
DOUCEY, Bruno. Victor Jara: não à ditadura. São Paulo, ed. Edições SM, 2009.
MACHADO DE GENARO, Luís Felipe. Victor Jara e a Revolução Latino-Americana: a canção engajada chilena entre a ditadura militar (1973) e o estallido social (2019). MusiMid: Revista Brasileira de Estudos em Música e Mídia, [S. l.], v. 4, n. 1, p. 98–114, 2023. Disponível em: https://revistamusimid.com.br/index.php/MusiMid/article/view/149. Acesso em: 26 set. 2024.
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