1 - Gertrude Himmelfarb narra a formação da chamada "contracultura", que nasceu justamente em oposição à moralidade vigente até então, mais estrita e rígida. A ascensão dessa moralidade mais "relaxada" a partir dos anos 60 se deve a uma série de fatores: o desenvolvimento dos meios de comunicação em massa, o movimento pelos direitos civis nos EUA, a invenção e difusão dos métodos contraceptivos, o movimento contra a guerra do Vietnã, a ampliação do acesso às universidades, entre outros. Desse caldo, então, surgiu essa chamada "contracultura" ou "moralidade progressista" que se generalizou para toda a sociedade. Assim, o que antes era uma moralidade própria de alguns nichos, como o meio artístico e boêmio, propriamente uma contracultura, tornou-se com o passar dos tempos a cultura padrão, generalizada nas sociedades ocidentais.
2 - A sugestão de Adam Smith e de Himmelfarb, de que pessoas mais ricas teriam um maior incentivo a aderir essa moralidade progressista, pois os seus recursos permitiriam sustentar um estilo de vida desregrado por mais tempo, o que não aconteceria com os mais pobres, que, por contar com menos recursos e, portanto, menos brechas para deslizes, teriam mais incentivos para viver de acordo com uma moral mais conservadora e rígida. Essa é uma tese bastante interessante que merece ser investigada, entretanto, entendo que esse contraste moral se deve também a outros fatores.
3- De certo modo, a oposição que a historiadora narra entre uma moral conservadora, mais rígida, estrita e uma moral progressista, mais "tolerante", com algumas diferenças, é precisamente o conflito moral que observamos atualmente. A chamada contracultura dos anos 60 teve um sucesso estrondoso nos anos seguintes, de forma a deixar de ser propriamente uma cultura minoritária para se constituir na cultura dominante, padrão nas sociedades ocidentais. E assim não parou de se aprofundar e se radicalizar até os dias atuais. Os que se opunham a esse "espírito" da revolução cultural passaram então a reagir a essas mudanças morais dando origem a uma contrarrevolução conservadora. Esse é, então, a razão para a chamada "polarização" atualmente, o choque entre sistemas morais profundamente diferentes e inconciliáveis.